Concessionária investigada por crimes ambientais acumula lucros bilionários, mas trabalhadores seguem com salários defasados e população paga caro pelo serviço
Denúncias de transbordamento de esgoto em vias públicas e lançamento de efluentes não tratados diretamente na nascente do Córrego Lajeado levaram o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) a instaurar procedimento administrativo para apurar a operação de uma Estação Elevatória de Esgoto (EEE) em Campo Grande.
A estação é operada pela concessionária Águas Guariroba S.A., controlada pelo grupo Aegea, responsável também pela PPP do esgotamento sanitário em Mato Grosso do Sul.

Conforme apurou reportagem do site Campo Grande News, nos autos há registros audiovisuais e relatos apontam excessos de carga na estação, agravados pela limitada capacidade da estrutura. Essa limitação tem provocado, há mais de uma década, transbordamentos em poços de visita, com escoamento para bocas de lobo e, em seguida, para o sistema de drenagem urbana.
Apesar de intervenções anteriores — como a instalação de bomba adicional e o asfaltamento de bueiros — a situação persiste. A investigação também identificou uma estrutura de concreto nas proximidades com escoamento de água contaminada, o que levou o MPMS a notificar a concessionária e solicitar documentos técnicos como licença ambiental, capacidade de vazão, número de economias atendidas, existência de tanque de retenção de águas pluviais e informações sobre o extravasor e a estrutura mencionada.
Para o presidente do Sindágua-MS, Lázaro de Godoy Neto, o caso é mais um exemplo da visão de lucro acima de tudo e detrimento a qualidade dos serviços públicos: “Águas Guariroba/AEGEA/PPP de Esgotos de MS prestando os serviços com a qualidade que lhes é salutar. Infelizmente, os episódios de transbordamentos e lançamentos irregulares confirmam as denúncias que o sindicato vem alertando”, destacou.
Críticas do sindicato
Lázaro lembra que, mesmo após a prorrogação da concessão por mais 30 anos — quando ainda restavam 18 anos para vencer o contrato inicial — a empresa não construiu um sistema de tratamento complementar na Estação de Tratamento do bairro Los Angeles.
“Essa omissão levou à degradação do rio Anhanduí, que passou da Classe 2 para a Classe 4. A pergunta é: para onde está indo o lucro líquido de mais de R$ 1,3 bilhão acumulado nos últimos cinco anos?”, questiona o presidente do sindicato.
Além do impacto ambiental, o Sindágua-MS também relaciona os problemas à situação dos trabalhadores. Isto porque, enquanto a empresa ostenta lucros bilionários (relatório CVM), seus empregados acumulam perdas salariais de 15% em relação ao INPC. A data-base de 1º de novembro se aproxima e os trabalhadores seguem sem reposição justa.
Há uma disparidade entre a remuneração da diretoria e a realidade dos empregados. Somente em 2024, a diretoria da Águas Guariroba recebeu mais de R$ 4,6 milhões em remuneração. “E os trabalhadores? Continuam amargando perdas salariais e a população pagando a tarifa mais cara entre as capitais brasileiras”, questiona Lázaro.
Defesa da concessionária
Em sua defesa ao MPMS, a Águas Guariroba alegou que os extravasamentos foram causados por obstruções provocadas por terceiros, como lançamento de pedaços de madeira na rede de esgoto. A empresa também justificou inviabilidade técnica de implantar uma rede maior devido à interseção com a estrutura já existente.
Em nota enviada ao Campo Grande News, a concessionária declarou que atua em plena conformidade com o contrato de concessão, possui licenciamento ambiental vigente e segue monitoramento rigoroso. A empresa negou lançamento de esgoto não tratado em nascentes e reforçou que é responsável pela manutenção de mais de 3 mil quilômetros de rede de esgoto em Campo Grande, atendendo cerca de 800 mil pessoas.
Ação civil pública e cobrança por responsabilidade
Diante dos riscos ambientais à nascente do Córrego Lajeado, o MPMS também moveu ação civil pública para responsabilizar a concessionária por poluição ambiental.
O Sindágua-MS reafirma sua posição de vigilância permanente e defesa da água pública, exigindo transparência, respeito ao meio ambiente e valorização dos trabalhadores.
“Até quando vamos conviver com esse modelo que privilegia o lucro de poucos em detrimento da saúde ambiental, dos direitos trabalhistas e da população que paga caro pelo serviço?”, finalizou Lázaro.
Assessoria de Comunicação Sindágua-MS, com informações: Campo Grande News, em 19/9/2025